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é necessário um movimento regular que visualiza e age diante o ciclo sutil de transformação diária: em que organização e bagunça coexistem a todo tempo, afinal, mesmo enquanto estamos tirando poeira, ela se acumula.


não tem começo, nem meio, nem fim

andei pensando sobre a forma como somos introduzidos à manutenção dos espaços – e sempre ao falar dos espaços, estou me referindo aos internos e externos.

como se fosse preciso esperar o caos, ou pelo menos um pouco dele, pra que tomemos uma providência. um grande desgaste – dentro ou fora, para que solicitemos algum reparo.

como os monges, não é preciso esperar a bagunça para organizar.

esse movimento regular de manter a ordem de forma contínua nos ajuda a acompanhar o caos que também está constantemente acontecendo.

quando o extremo se manifesta algo está em desequilíbrio.
(normalmente esse algo é a gente)

o extremo da bagunça se dá porque procrastinamos a limpeza muitas vezes seguidas. enquanto o extremo da organização se dá possivelmente porque adquirimos algum nível de compulsão pela ordem.

ambos os casos tiram nosso foco do que realmente importa: aproveitar nossos espaços.

aceitar a conformação da organização e bagunça como um ciclo me trouxe a leveza de que esse é um projeto que vai estar sempre inacabado.

então também não precisamos esperar a organização completa pra fazer o que gostaríamos.



um ciclo não é uma fila

a lógica linear que constrói nosso raciocínio separa os elementos e os organiza como se o primeiro elemento precisasse deixar de existir para que o próximo surja.

esse entendimento cria em nós uma ideia errônea de que a vida caminha, de forma isolada, para a morte, e posteriormente, com sorte, a morte caminhará para a vida, quando for a hora.

mas na realidade, desde que nascemos, estamos continuamente passando por processos de morte. e esses processos, físicos, mentais e espirituais, é que abrem espaço pra que vivam as novas versões de nós mesmos.

compreender o ciclo é, portanto, perceber a simultaneidade dos seus movimentos.
é entender o sistema que se forma pela relação de geração contínua entre seus elementos.



dançando com a ordem & o caos

a organização não é melhor nem pior que a bagunça, apenas diferente.

o lado que consideramos desconfortável numa equação dual não precisa ser visto como um elemento indesejável, afinal, se me recuso a conhecer the dark side of the moon, conheço apenas a metade.

perdemos o poder de integração do paradoxo quando insistimos em enxergar os opostos como elementos isolados, e tentamos anular um deles porque o outro é mais conveniente de ser experimentado – mesmo que momentaneamente.

o desconforto também se relativiza com o passar do tempo. uma escolha desconfortável agora pode gerar resultados confortáveis no futuro e vice-versa.

e portanto, para integrar os paradoxos é preciso apenas reconhecer a natureza inseparável dos opostos, e os elementos da dualidade como faces opostas de uma mesma moeda, sofrendo variações contínuas de acordo com contexto e tempo.



experimentar gera outras experiências

se abrir para a inteireza da dualidade nos ensina quem somos quando estamos do outro lado.

aceitar que o aprendizado verdadeiro só é possível através de uma experiência completa, e portanto dual, nos ajuda a desejar o desconforto e romper as comodidades da inação.



paradoxos não são ilógicos

fomos ensinados, de certa forma, a entender que a contradição é incoerente. que a presença de um extremo anula, automaticamente, a presença do outro extremo, e assim sendo, acreditamos na falácia do isso OU aquilo.

se analisamos somente isso OU aquilo separadamente, perdemos a chance de analisar o sistema como um todo.

se isso E aquilo fazem parte de um sistema único, de certa forma, eles podem ser vistos como sendo a mesma coisa, em condições opostas.

e por isso, se você fecha a porta pra um, nenhum dos dois entra.

assim como a água é uma substância que se transforma em neblina ou geleira a depender das condições em que se encontra, caos e ordem são estados de arranjamento que também sofrem alterações em conformidade com o contexto.

(é um exercício e tanto definir um título para a escala dos opostos.

assim como caos & ordem podem ser definidos como estados extremos numa escala de arranjamento, tristeza & alegria de contentamento, dúvida & certeza de convicção…)

seja o oposto que for, a busca pelo estado neutro facilita a adequação e fluidez, já que seus extremos podem resultar em estados sólidos e rígidos ou voláteis e frágeis.



a dualidade dentro da dualidade

me parece mais fácil encontrar o ônus dentro do bônus do que encontrar o bônus dentro do ônus – literalmente. mas ambos estão lá.

dentro da ordem também existe o caos.

se você considera a bagunça ruim e a organização boa, te pergunto:
como sua bagunça te beneficia? como a organização te atrapalha?
como isso muda conforme o tempo passa?

(esse exercício funciona pra qualquer paradoxo)



o benefício da dúvida

se a dualidade não termina numa única bifurcação, mas continua ramificando sombra e luz continuamente, podemos escolher onde focar.

se dentro daquilo que é belo coexiste o bonito e o feio, e dentro do feio: bonito e feio, a interpretação fica a nosso critério.

no entanto, o copo meio cheio não te mata de sede, por isso o cérebro insiste em focar no copo meio vazio.

um mecanismo de sobrevivência que não se enquadra nos privilégios modernos, mas continua nos forçando a ter foco e memórias mais nítidas quando se trata de situações difíceis.

por isso desejar o desconforto educa a nossa mente primitiva frente a desafios saudáveis que são absolutamente necessários pra nossa evolução.

por isso há de querer a experiência completa: com coragem & medo.

ciente que a paisagem é sempre um lado da estrada por vez, mas os dois existem ao mesmo tempo.

ciente que podemos escolher como, e pra onde olhar.

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