Acabei de ter uma epifania.
Logo depois de mapear semelhanças entre as estações do ano, os naipes, as fases da lua, as coordenadas geográficas, os quatro elementos, as fases da menstruação (…) passei um café, e fui levar pro meu marido, que estava sentado no ateliê, e comecei a falar alguma coisa sobre fazer planos.
E assim, aleatoriamente, uma forma diferente de enxergar o ato de planejar surgiu, à luz desse entendimento inesperado que parecia estar sempre ali, torcendo pra atravessar e ser atravessado.
Corri pro computador, tentando organizar o raciocínio por extenso, selecionando palavras pra traduzir o instante-sentimento que se dá quando uma ideia-não-verbal, uma espécie de visualização-auto-explicativa, surge e, em um milésimo de segundo, desafia qualquer barreira de linguagem e tempo, e nos transforma, definitivamente.
Tudo isso é.
E por ser – e só depois de ser, é que se torna possível assimilar e sistematizar.
Os sistemas naturais não se manipulam, e sim se observam.
De repente entendi porque a maioria esmagadora das minhas tentativas de planejamento foram praticamente infrutíferas.
E parecia óbvio: minha lógica era seguir a ordem desnatural do processo de observação. Naturalmente: primeiro se observa, depois se assimila.
O planejamento como eu o enxergava tentava, desesperadamente, fazer o contrário. Não que não seja possível – porque é, mas pode ser muito mais doloroso em alguns casos, e em outros, ser desestimulante a ponto de paralisar completamente um processo de evolução em curso, nos fazendo sentir fracassados.
Planejar demais dificulta ser – o que precisa ser, porque desconecta dos ciclos, e junto com essa desconexão surgem sentimentos de frustração, impotência, fraqueza. E aí o padrão passa a ter esses elementos de culpa e desequilíbrio na sua equação, o que atrapalha muito mais que ajuda.
Se o que se tem como intenção ao desenvolver o planejamento é provocar-se uma auto-indução de comportamentos que contrariam a própria natureza, é preciso observar os impactos mentais e físicos que isso gera, principalmente a médio e longo prazo – caso sejam mantidos por tanto tempo.
Felizmente para os meus ciclos e infelizmente para o meu senso de realização, essa auto-indução, como observei, em muitos dos meus casos não dura.
Essa é a minha natureza. Querer que seja diferente é um ato de desrespeito ao que é. Forçar-me a agir contra o meu fluxo, regido pelo cosmos, como se eu soubesse melhor que o universo meu verdadeiro propósito, que não é algum além de estar aqui, exatamente aqui, fazendo exatamente o que eu estou fazendo, é ir contra a natureza do universo. É entrar em guerra com o todo, e seja a disputa que for, já sabemos, não há vencedores quando o assunto é evoluir – não tem nada a ver com perder ou ganhar.
Transformar-se, verdadeiramente, sempre parte do processo primário de aceitação profunda.
Presenciei algumas vezes a manifestação dessa mágica.
Em muitos níveis, planejar é querer controlar, e, eventualmente, aquilo que não é livre não tem espaço para se expressar.
E o que não se expressa não tem espaço para ser.
E ainda, se o que eu tento controlar também exerce controle sobre mim, planejar é também uma forma de se aprisionar.
Justo eu, aquarius.
(Insira um meme felizte aqui)
E então, sem nenhum planejamento, hoje a tia do sistema que me habita, (co)movida pelas energias outonais de transformação e certezas esvoaçantes, finalmente percebeu que planejar é ~ no mínimo, contraintuitivo.
Se minha intenção é entrar no fluxo, e a melhor versão de mim surge na leveza e no fazer as pazes com meu próprio tempo, preciso abraçar o caos e confiar no que há de maior. Entregar, aceitar e agradecer.
E também o óbvio: a natureza não faz planilha, nunca vi.
Se há análise de dados ela é não-verbal, o tempo decide a evolução, sistematicamente, sem gráficos.
O que não é, é tão importante quanto o que é.
As folhas caem sem textão. No vazio moram todas as possibilidades.
A flor se abre, sem selfie, foda-se o algoritmo.
As estações não criam linhas editoriais para produzir suas transformações.
Independente do aplicativo ser pago, a lua apenas acontece.
E sim! Embora nossos padrões pareçam mais complexos, eles existem, e independem do nosso entendimento ou capacidade de mapeá-los.
Para enxergar padrões no caos que é a mente é preciso paciência. Desapegar da “tralha” mental, e observar atentamente: as falhas e as dificuldades são sintomas a serem examinados, com cuidado – como diria Taleb, os desconfortos são uma grande fonte de inteligência, quiçá a maior delas.
Documentar-se é um ato revolucionário, porque a auto-investigação desbloqueia muitos entendimentos sobre nossas próprias causas e ressignifica as pedras como sendo o próprio caminho.
É bonito encontrar e desenvolver métodos de absorver os pensamentos, e investigá-los.
De olhar-se, desde, e acredito que, principalmente, a infância, os nossos primeiros ciclos.
Encontrar-se é um exercício constante de não induzir-se a ser algo que não se é, não nadar contra a própria correnteza, e não entrar em desacordo com o próprio fluir – todas essas são formas de esgotar-se.
Olhar para si mesmo como quem soluciona fórmulas de não-aceitação e auto-desconfiança.
x = amor
Muitas vezes, o aprimoramento pode se dar, puramente, pela observação.
A inteligência tem seu jeito – independente, de ser inteligente.
Tudo evolui ao mais simples experimentar.
Não-planejar o distante, o indizível. O próximo passo é o que faz sentido agora. A abundância da presença. É o suficiente.
Quando eu crescer quero ser cada vez mais cientista e menos planejadora, porque acreditar nos meus experimentos é ir de encontro ao que é, em minha essência mutante, absolutamente verdadeiro.